Os períodos de passeio, nos quais tínhamos permissão para sair do navio, eram, com muita sorte, de apenas quatro horas. Isso significava dez minutos para se preparar na cabine e uns vinte para retornar e se aprontar para o próximo turno de trabalho. Sem parar, era preciso ser rápido, uma corrida constante contra o tempo. Lembro-me que o primeiro lugar onde desci foi na Itália, apenas para comprar um chip de telefone, um ato simples que representava uma pequena conexão com o mundo exterior.
Os cruzeiros eram organizados por rotas, e nos era dada uma escala com a programação semanal. No primeiro dia, recebíamos a clientela e, normalmente, passaríamos sete dias com os mesmos clientes. O roteiro era diverso, e as paisagens, vistas da perspectiva do navio, eram incrivelmente deslumbrantes. Conheci lugares realmente inacreditáveis: arquiteturas antigas e modernas, montanhas que se perdiam no horizonte, vilas de muitas classes, algumas perturbadas e superpopulosas. Era tudo o que eu queria: interação com o mundo e o sentimento de liberdade, ainda que fosse um escravo de primeira classe. Os momentos valeram a pena, encontros incríveis e experiências totais. Nessas buscas por similaridades e conversas, conheci pessoas incríveis e intensas. Era o que eu buscava. Algumas pessoas usadas e manipuladas, e saber disso nos aproximava. Encontrar em nossas debilidades maneiras de nos fortalecer foi essencial, encontrar um pouco de conforto na solidão deste vasto oceano que é a vida. Entre as dúvidas e incertezas, manter-se firme em nossas proposições era o que mais importava. Acredito que até hoje nos questionamos sobre o que aconteceu e o que significou aquelas vivências. Não há dúvidas sobre o aprendizado, sobre a natureza humana ou sobre as angústias envolvidas. Poder encontrar confidências de pessoas inicialmente desconhecidas, opostos existenciais, é gratificante, sobretudo quando há clareza de expressão e consciência do efêmero, um conhecimento que pulsará para sempre.
De maneira repetida, como a roda de Samsara, eu tentava quebrar o ciclo de alcoolismo que me perseguia. Acostumado com essas interações desde pequeno, parecia um ímã para amigos “loucos”, pessoas incríveis, mas que tinham o mesmo problema que eu: beber até cair. Saí do Brasil pensando que esse período me permitiria cortar essa droga da minha vida, mas falhei, entendendo que o ambiente nos permite continuar e relativizar os danos psíquicos que o álcool nos traz. Sem dúvidas, é muito prazeroso beber e se divertir com os amigos noite afora, mas precisamos refletir sobre as perversões que tudo isso acarreta. Perdemos amigos por falta de respeito e brincadeiras bobas. Infelizmente, não pude me despedir de pessoas que admirei e que se chatearam por algumas piadas que nem são nativas do meu caráter, mas que aprendi durante a vida, pensando que divertiria as pessoas, o que não é verdade. Hoje, escrevendo essas memórias, posso celebrar não mais contribuir com o álcool nem com essas degenerações que envergonham as pessoas próximas a nós.