Personal_Help_Desk
Personal Help Desk

Mediterrâneo à bordo

A todos que cogitam se aventurar em uma experiência embarcado em contratos com cruzeiros nacionais ou internacionais, vou tentar relatar a minha aventura, uma busca por aprimorar meus idiomas e aprofundar meus conhecimentos em restaurantes.

Como atrair a atenção das pessoas enquanto contamos momentos importantes de nossa história, momentos que representam divisores de águas, essa experiência surgiu de maneira inesperada em minha vida e me proporcionou grandes aprendizados.

Em uma época conturbada de minha vida buscando por novas experiências, me candidatei a uma vaga de “Barboy” em uma grande companhia de cruzeiros, sem imaginar o que viria pela frente e com poucas esperança de aprovação, levou um tempo para obter uma resposta, com meu inglês autodidata, derivado de estudos na área de informática baseado em um “vocabulário técnico” e muito de escutar e acompanhar letras do HIP-HOP, na grande maioria Norte-Americano, fizeram de alguma maneira ser contratado meses depois da aplicação. Primeiro voo da minha vida, retratada nesta foto a esquerda, partia em direção ao embarque que seria em Barcelona, fazendo uma conexão no aeroporto “Chales de Gaulle” à Paris, meus primeiros sprints pelos corredores de um aeroporto, foi uma conexão apertada, todos os processos foram preparados e de responsabilidade da empresa, a sensação de importar para a empresa foi incrível e marcou minha vida neste primeiro momento, me sentindo especial, tendo uma empresa cuidando de tudo e em busca de meu profissionalismo, mau sabia as condições que encontraria.

Ao desembarcar no aeroporto Charles de Gaulle em Paris, gigantesco, também tive a chance de pegar o metro que transporta os clientes entre os terminais, conexão feita no limite do tempo, quase o último a embarcar a sensação ao estar no avião foi tranquilizadora, já podia me sentir menos ansioso em direção à Barcelona, pensando o tempo todo como seria o transporte em direção ao porto, e se conseguiria estar a tempo, foi muito estressante essa insegurança durante o deslocamento. chegando em Barcelona havia uma pessoa responsável por todos que embarcariam para essa temporada do Crueiro, ao ver a placa da companhia na mão de uma pessoa foi o calmante final. O primeiro dia de um embarque é definitivamente uma loucura, esperando em uma fila a beira do porto de Barcelona, um representante da companhia veio ao nosso encontro, pude conhecer alguns companheiros de contrato no momento de espera, fomos encaminhado a uma sala de treinamentos, na qual foi feita a revisão das documentações, vacinas e posição, nos encaminharam para pegar a chave da cabine na qual me instalaria, uma agenda contendo os horários de trabalho, intensa e me fazia pensar o tempo todo no serviço militar. Definida a cabine e os bares de atuação inicial,nos direcionamos ao ponto de encontro em caso de emergência, peguei meus uniformes e segui para acomodar minhas coisas em meu dormitório, 9 metros quadrados, me troquei para assumir minha primeira jornada, resumida em apresentação de meus superiores e funções, nesse primeiro momento o resultado foi um pedido de transferência de cabine, uma vez que meu chefe de Bar era um brasileiro, os dilemas do navio são inúmeros, estar dividindo cabine com meu chefe direto, se mostrou uma facilidade nesse período de treinamento, além de não passar por nenhum choque cultural vivendo com pessoas do “Siri-lanka” ou da “Índia”, não por preconceito mas por comodidade e facilidades. Tentando me curar do alcoolismo, logo no primeiro dia já tínhamos cerveja gratuita para a manutenção do alcoolismo, com acesso a todos os tipos de destilados não foi difícil desviar diferentes destilados sempre para consumo por sinal, vivendo em um dilema de saúde física e mental, já não tinha volta. Após o primeiro período de trabalho terminei na área de fumante com algumas latas de “San Miguel” com meu responsável direto, uma área delimitada onde podíamos tomar nossa cerveja e fumar nossos cigarro em trocas de turno, usávamos o grande cinzeiro tubular para esconder um saco de lixo no qual transportávamos as bebidas. Esse era o local definido ao que me dirigia quando a sirene tocava nos treinamentos de evacuação, era preciso vestir o colete salva-vidas e se posicionar o mais rápido possível no local, sendo responsável por direcionar todos os clientes para a área dos botes, essas rotinas me foram antecipadas no porto de santos na realização do certificado STCSW treinamento para profissionais marítimos, exigência para todos que pensam em trabalhar embarcado. A vida em alto mar é para poucos, uma aventura profissional que se tornou um grande aprendizado de vida…nunca mais embarcarei à trabalho para que fiquem bem claro.

A tripulação é um reflexo da diversidade social multicultural, além de não se limitar à uma só nação, em sua grande maioria sobreviventes que carregam as problemáticas sociais de suas classes sociais inerentes, alguns que necessitam deste tipo de contrato outros por aventura, aprendi enormemente sobre relações interpessoais e profissionais, acredito que intensificadas por ser um trabalho à bordo. Viver essa realidade marítima me fez repensar o restaurante e o atendimento de forma profunda, muitos destes profissionais impossibilitados de uma inclusão social e profissional em terra, latinos e centro americanos se apoiavam em suas problemáticas correligionárias e similaridades, de formas corruptas e perniciosas, relativizando comportamentos de todas espécies e tentando encontrar realizações pessoais à bordo, nós latinos americanos sem uma saída evidente, nos sujeitando as piores condições de trabalho, com responsáveis coniventes com todos tipos de comportamentos, se esforçavam por manter seus empregados uma vez que daria muito trabalho reformular as equipes, encontrar novos funcionários que aceitassem as condições era quase impossível uma vez que a temporada havia começado.

Logo no começo me deparei com um alcoolismo generalizado, no trabalho com total acesso ao bar os “Spirits” destilados estavam à mão, vendo o trafico de álcool desde o primeiro dia, festas e relações com clientes, brigas e confusões à bordo, um ambiente único, uma sociedade flutuante assemelhada à uma prisão flutuante. As paisagens eram de tirar o folego e o mundo parecia se abrir para minhas curiosidades, as conversas a beira do balcão e tantas eram as nacionalidades que apareciam. Pude praticar minha expressão de forma intensa e escutar história que até hoje duvido da veracidade, encontros que não se repetiriam e que se não fossem aproveitados naquele pequeno período de tempo, não haveria chance de um esclarecimento posterior, uma volatilidade que pode estimular mal muitas pessoas. Tudo é determinado de acordo com o seu interesse e onde suas curiosidades te direcionam, alguns interesses básicos nos levam sem perguntar como necessidades existenciais e que estão entranhadas em nossa humanidade, poucos os que conseguem revolucionar o autocontrole para um domínio do espirito e a conquista do que vem depois, como havia dito carregava alguns maus hábitos e segui praticando à bordo, havia vivido uma paixão recente em minha cidade e trabalhava com expectativas de um reencontro, o alcoolismo me tranquilizava enormemente nas duras jornadas de trabalho e frustrações, uma companheira de trabalho logo se tornou minha confidente, e pela primeira vez consegui entender algo que nunca havia compreendido, não existe amizade entre homens e mulheres, não sem uma regulação do ambiente, relações interligadas e pessoas envolvidas. Esse espaço era nossa área de interação e encontros, sempre acompanhados de algum tipo de álcool, ficávamos interagindo, bebendo e fumando, com o mar em nosso horizonte na maioria das vezes, estávamos entre Ingleses, Espanhóis, Centro Americanos, Latinos, Indianos, SiriLankeses e muitas outras origens. Sempre curioso estava questionando sempre as vivencias regionais das pessoas, as organizações de seus países, as atividades de suas famílias, Conheci sobre regionalidades do Meu país com meus colegas de trabalho, conheci sobre a Inglaterra e as Inglesas, aprendi muito sobre os Espanhóis e as Espanholas, Guatemala, Honduras, Costa Rica, Porto Rico, Aprendi sobre a Indonésia. O som dos corredores era sempre de tempestade, o barulho das ondas batendo na lateral do navio, no começo dava medo mas com o tempo parecia dormir sob o barulho da chuva, não sei se pela exaustão do trabalho e a constante embriagues tive ótimas noites de sono, uma lata de sardinha. As rotinas eram divididas em um período de recepção na piscina o que me garantia um bom café da manhã de Bayleis, café e banana era uma manhã mareada, na parte da noite trabalhava no Bar do cassino, onde se concentrava o maior movimento do navio. A música era muito boa, não pelo repertório mas porque a banda era incrível e junto a eles havia uma equipe de animação que encantava por suas piadas. Todos queriam ser amigos dos músicos e artistas, a elite do navio, estavam sempre com os seguranças e tinham acesso à todo tipo de drogas… Haxixe, Maconha e Cocaína, sempre sujeitos a teste de drogas não entendia como estavam sempre se arriscando, no fundo o contrato não parecia importar tanto como a “diversão”, as relações com o tempo se mostraram muito elásticas como nos bairros, sempre que me sentia atraído por uma mulher descobria que alguém já havia se relacionado com ela, muitos já estavam embarcados à anos.Os períodos de passeio, no qual tínhamos permissão para sair do navio, com muita sorte eram de quatro horas, isso quer dizer dez minutos para se preparar na cabine e uns vinte para retornar e se preparar para o turno de trabalho, sem parar era preciso ser rápido, lembro que o primeiro lugar que desci, foi para comprar um chip para o telefone, na Itália. Os cruzeiros eram organizados por rotas e nos era dada uma escala com a programação semanal, o primeiro dia recebíamos a clientela e normalmente passaríamos sete dias com os mesmos clientes. O roteiro era diverso e as paisagens incríveis da perspectiva do navio. Conheci lugares realmente inacreditáveis, arquiteturas antigas, modernas, montanhas que fugiam a vista, vilas de muitas classes, vilas perturbadas e super populosas, tudo que eu queria, interação com o mundo e o sentimento de liberdade, ainda que fosse um escravo de primeira classe, os momentos valeram a pena, encontros incríveis e experiências totais. Nessas buscas por similaridades e conversas, conheci pessoas incríveis e intensas, era o que eu queria, algumas pessoas usadas e manipuladas, saber disso nos aproximava e encontrar em nossas debilidades maneiras de nos fortalecer foi essencial, encontrar um pouco de conforto na solidão deste vasto oceano que é a vida, entre as dúvidas e incertezas se manter firme em nossas proposições era o que mais importava, acredito que até hoje nos questionamos sobre o que aconteceu e o que significou, aquelas vivências, não há dúvidas sobre o aprendizado, sobre a natureza humana ou sobre as angústias envolvidas, poder encontrar confidências de pessoas inicialmnete desconhecidas, opostos existenciais é gratificante, sobretudo quando há clareza de expressão e consciência do efêmero, conhecimento que pulsará para sempre. De maneira repetida como a roda de Samsara, tentava quebrar o ciclo de alcoolismo que me perseguia, acostumado com essas interações desde pequeno parecia um iman para amigos loucos, pessoas incríveis mas que tinham o mesmo problema que eu, beber até cair. Saí do Brasil pensando que esse período me permitiria cortar essa droga da minha vida, mas falhei entendendo que o ambiente que nos permite continuar e relativizar os danos psíquicos que o álcool nos trás, sem dúvidas é muito prazeroso beber e se divertir com os amigos noite à fora mas precisamos refletir as perversões que tudo isso acarreta, perdemos amigos por falta de respeito e brincadeiras bestas, infelizmente não pude me despedir de pessoas que admirei e que se chatearam por algumas piadas que nem são nativas de meu caráter mas que aprendi durante a vida, pensando que divertiria as pessoas, o que não é verdade. Hoje escrevendo essas memórias posso celebrar não mais contribuir com o álcool nem com essas degenerações que envergonham as pessoas próximas a nós Tentando me curar do alcoolismo, logo no primeiro dia já tinha cerveja gratuita para me embriagar como antes, com acesso a todos os tipos de destilados não era difícil desviar o que quer que eu quisesse, vivendo em um dilema de saúde física e mental, não tinha retorno. Tentando me curar do alcoolismo, logo no primeiro dia já tinha cerveja gratuita para me embriagar como antes, com acesso a todos os tipos de destilados não era difícil desviar o que quer que eu quisesse, vivendo em um dilema de saúde física e mental, não tinha retorno. Tentando me curar do alcoolismo, logo no primeiro dia já tinha cerveja gratuita para me embriagar como antes, com acesso a todos os tipos de destilados não era difícil desviar o que quer que eu quisesse, vivendo em um dilema de saúde física e mental, não tinha retorno. Ansioso por novas experiências me candidatei ao posto de Bartender sem imaginar ao que seria exposto, com poucas esperança de ser aprovado com um inglês autodidata baseado em um vocabulário de tutoriais técnicos provido da informática, e os complementos das letras de HIP-HOP que por fim me levaram a ser contratado.
Nesta foto pela primeira vez fora do país fiz uma conexão no aeroporto CDG à Paris para logo depois embarcar na Espanha no mesmo dia, uma sensação que marcou minha vida para além da experiência que viria. Primeiro dia já encaminhado a uma sala de treinamentos para a revisão de papéis e encaminhamento para a cabine que me instalaria, as rotinas eram intensas e me fazia pensar em servir ao exército. Ansioso por novas experiências me candidatei ao posto de Bartender sem imaginar ao que seria exposto, com poucas esperança de ser aprovado com um inglês autodidata baseado em um vocabulário de tutoriais técnicos provido da informática, e os complementos das letras de HIP-HOP que por fim me levaram a ser contratado.
Nesta foto pela primeira vez fora do país fiz uma conexão no aeroporto CDG à Paris para logo depois embarcar na Espanha no mesmo dia, uma sensação que marcou minha vida para além da experiência que viria. Primeiro dia já encaminhado a uma sala de treinamentos para a revisão de papéis e encaminhamento para a cabine que me instalaria, as rotinas eram intensas e me fazia pensar em servir ao exército. Nesta foto pela primeira vez fora do país fiz uma conexão no aeroporto CDG à Paris para logo depois embarcar na Espanha no mesmo dia, uma sensação que marcou minha vida para além da experiência que viria. Primeiro dia já encaminhado a uma sala de treinamentos para a revisão de papéis e encaminhamento para a cabine que me instalaria, as rotinas eram intensas e me fazia pensar em servir ao exército. Nesta foto pela primeira vez fora do país fiz uma conexão no aeroporto CDG à Paris para logo depois embarcar na Espanha no mesmo dia, uma sensação que marcou minha vida para além da experiência que viria. Primeiro dia já encaminhado a uma sala de treinamentos para a revisão de papéis e encaminhamento para a cabine que me instalaria, as rotinas eram intensas e me fazia pensar em servir ao exército.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *