lucas francisco rocha

Representação de idiomas dos quais me sinto a vontade para me comunicar

Nem toda praia é bonita, mas toda praia é completa. Esta verdade se revela quando abandonamos os julgamentos estéticos superficiais e nos permitimos mergulhar na essência profunda desses encontros entre terra e mar. As condições locais – sejam elas áridas, rochosas, ventosas ou aparentemente inóspitas – dão uma consistência única a cada pedaço de litoral que, ainda que não a faça atrativa nos padrões visuais normativos que nossa sociedade estabeleceu, cumpre sua função elemental de ser um portal onde convergem as forças primordiais.

É nesse teatro natural que os elementos se encontram em dança eterna: o fogo do sol que aquece a areia e reflete nas águas, o ar que carrega o sal e os sons das ondas, a terra que se rende ao abraço constante das marés, a água que esculpe e remodela incansavelmente, e o mar – essa entidade quase mística que transcende a própria água, carregando memórias, histórias e a sabedoria ancestral dos oceanos. Nessa alquimia elemental, somos convidados a vibrar para além da aparência, a sentir com outros sentidos que não apenas os olhos, a nos conectar com algo maior que nossas expectativas visuais.

Cada praia, independente de sua “beleza” convencional, oferece essa oportunidade de comunhão com o essencial. A praia pedregosa ensina sobre resistência e permanência; a praia de areias escuras fala sobre transformação e renovação; a praia batida pelos ventos sussurra sobre movimento e mudança constante. Todas cumprem esse papel fundamental de nos reconectar com as forças que nos formaram e que continuam a nos formar.

Estava me despedindo já com uma consciência melancólica de não haver encontrado um trabalho durante essa jornada – uma busca que me trouxe até ali, vagando entre possibilidades que não se concretizaram. O retorno se desenhava inevitável, e eu me via conciliando uma breve estadia estratégica para a negociação do carro, esse companheiro de viagem que também precisava de uma nova direção, assim como eu.

Havia algo profundamente simbólico nessa despedida às margens do mar. Como se a praia, em sua completude elemental, me lembrasse que nem sempre encontramos o que procuramos onde esperamos encontrar, mas que isso não torna a busca menos válida ou o lugar menos significativo. Às vezes, o que levamos conosco é mais importante do que o que deixamos para trás.

A negociação do carro representava mais do que uma transação comercial – era quase um ritual de passagem, uma forma de encerrar um ciclo e se preparar para o próximo. Naquele momento, entre a areia e o horizonte infinito, entre a decepção da oportunidade perdida e a esperança do recomeço, eu compreendia que, como as praias, nem todos os momentos da vida são bonitos, mas todos são completos em sua própria essência transformadora.