Não subestimo a complexidade da fotografia; ela é, de fato, uma lente através da qual a alma do fotógrafo se revela, capturando não apenas imagens, mas a própria essência de sua percepção do mundo. Minha jornada, despretensiosa e guiada por aplicativos que prometiam estacionamentos gratuitos – uma dádiva para quem, como eu, buscava a liberdade sem os custos dos campings tradicionais –, transformou cada parada em uma epifania. Mesmo com a ocasional conveniência de serviços pagos, o foco permaneceu em absorver a atmosfera de cada praia, de cada recanto. Essa imersão reacendeu em mim a paixão pelas panorâmicas, aquelas que sempre me cativaram. Armado com recursos e técnicas aprimoradas ao longo do tempo, consegui extrair essas vastas paisagens até mesmo de vídeos, e comecei a lapidá-las manualmente, sem a precisão digital, mas com a intuição de um artesão, vislumbrando um futuro onde essas peças se uniriam em uma paisagem ainda mais grandiosa.
Foi durante essa odisseia que descobri a generosidade dos estacionamentos, que ofereciam de uma a três horas de cortesia na primeira visita a cada vila. Aproveitei essa comodidade em todas as áreas que explorei, mas foi em um porto em particular, na deslumbrante Côte d’Azur, especificamente em Port La Seyne-sur-Mer, que senti ter capturado uma das minhas fotografias mais belas. A escolha é árdua, pois cada imagem carrega consigo um pedaço da jornada, uma emoção indescritível.
Relembrar os caminhos percorridos é uma satisfação profunda, e a construção dessa coleção, que sintetiza momentos tão significativos para o mosaico da minha vida, é um prazer que, por vezes, beira a dor. Hoje, ao revisitar minhas fotos, encontro nelas uma esperança renovada em meu olhar para com o mundo. Embora esse sentimento se misture com as complexidades das interações humanas e dos grupos que nos cercam, minha passagem por este planeta será de verificação e provas em campo, como a de um arqueólogo desenterrando dinossauros. Sinto que estou completando meu álbum de lacunas, para que, no crepúsculo da vida, eu possa referenciar de forma colorida às futuras gerações, transmitindo uma sensação acessível de confiança de que o mundo é, sim, habitável e repleto de possibilidades infinitas.